DIÁRIO DE UM OPERADO, PARTE 3

        Passados 10 dias de agonia e dor, percebo que nesta terceira cirurgia as coisas estão um pouco diferentes: minha filha que outrora me acertara com uma vassourinha na 1ª vez e, por vezes, me acertava um tapa no joelho, já não faz mais isso, apenas caiu a 2 mm do local e insiste em pular na cama ou vir batendo nela enquanto a circula, o que sempre me gera um pouco de dor, pela vibração, mas nada que 74 pedidos diários para que ela não faça isso não resolva.

        Escovar os dentes dentro do balde também é uma grande evolução, antes ele só me servia para outra necessidade que pôde ser substituída graças a um amigo que conseguiu para mim um “papagaio”, um recipiente urinário para homens acamados; uma espécie de garrafa metálica. Isso bem que poderia ser transparente já que é sempre um mistério saber se ela vai comportar dentro tudo o que tenho pra colocar pra fora. Aquele barulho de garrafa enchendo é muito agonizante parece que toda vez aquilo vai transbordar, sobretudo quando recebo visitas: não dá pra pedir licença pra ir ao banheiro, nem é difícil me segurar (o problema no meio das pernas, é por que o joelho fica no meio das pernas), então quando as pessoas saem geralmente tem sempre um pouco mais do que normalmente teria. Sem falar que o orifício de entrada é relativamente pequeno, de maneira que apenas mirar não é suficiente, tem que introduzir o instrumento naquele ambiente escuro, onde os olhos nada veem, já na expectativa da retirada, calculando o ângulo na cama que impeça o refluxo e o posicionamento correto do corpo para evitar respingos no lençol ou em alguma almofada. Mesmo assim é bem melhor que o balde.

        Não é nada fácil fazer essa e outras coisas com uma das pernas para o alto. NÃO TENTE FAZER ISSO EM CASA, REQUER HABILIDADE E PRÁTICA.

        Exercitar a perna também é um mal necessário, que pouco fiz das outras vezes que operei, mas dessa vez estou me dedicando mais, para diminuir o trabalho da minha querida fisioterapeuta. Só paro mesmo quando a dor é de arrepiar, até porque já dói o fato de arrepiar, bocejar, respirar, espirrar, espreguiçar, namorar e/ou qualquer outra manifestação corporal.

        Alguns poucos graus de dobradura na perna já começam a serem ganhos, mas nada que se compare ao resultado de duas pessoas tentando dobrar minha perna e os exercícios que farei; até agora nem começou a doer de verdade.

        Os atuais dias maus farão os bons serem ainda melhores.