DIÁRIO DE UM OPERADO, PARTE 2

        Uma semana da cirurgia se passou e a única sensação de alívio que sinto é por terem passado 7 dias; longos e intermináveis dias, dos quais cada minuto tem 100 segundos pelo menos.  Embora seja minha terceira cirurgia no joelho, já me havia esquecido de alguns detalhes interessantes.

        A dor de cabeça que distraia a dor nas costas e fazia com que eu mal percebesse a dor no joelho agora ganhou uma nova companhia, a insuportável dor na panturrilha e coxa, provavelmente proveniente de um micro-processo de atrofia, cuja única descrição a que eu possa me referir é a da sensação de estar sendo esfaqueado na região, é de chorar. O curioso é que essa dor não me faz esquecer as outras dores, pelo contrário, agravou-as, trata-se, portanto, do que eu chamo de uma dor solidária, é a Unidos da Dor Desgraçada, aproveitando a deixa do Carnaval.

        Ir para o banho, embora necessário já que apenas o joelho não funciona direito e tenho uma esposa querida, tem sido uma verdadeira guerra, cada passo com a muleta gera uma vibração inevitável em todo o corpo, e mesmo não pondo a perna no chão dá pra sentir as facas atuantes mais uma vez.

        Hoje me senti um cão numa petshop: sentado numa cadeira, com a perna em cima de outra,  tomando banho de chuveirinho e por vezes dando a pata, digo, a perna pra ser cuidada, nem me secar sozinho consegui. Inclusive ando precisando de uma tosa, na barba que apenas sinto crescer, pois não me vejo no espelho desde a operação e até mesmo na perna, para manter a depilação exagerada da veterinária, digo, enfermeira; que, segundo disseram, já estava me preparando também para o Carnaval. O fato é que além das dores a bendita perna agora também coça.

        Apesar do quadro, tenho uma família que me ama e cuida; amigos preciosos que se preocupam e sobretudo um Deus que está no controle de tudo. Perco as noites de sono, a paciência, mas não perco a paz nem a fé...