DIÁRIO DE UM OPERADO: O JOELHO BOM

18-07-2011 17:46

 

Chegando a 150 dias da minha terceira cirurgia, lá se vão quase 6 anos desde a 1ª ocorrência de rompimento do ligamento cruzado anterior do joelho. Embora não queira nem pensar numa outra intervenção cirúrgica, não posso deixar de considerar tal possibilidade, uma vez que provavelmente voltarei a jogar futebol tão logo eu possa.

Assusta-me saber que estudos da Universidade Federal de São Paulo (USP) afirmam que 40% das pessoas que operam um joelho acabam por operar o outro em até 10 anos, eu praticamente estou chegando lá, já que as três operações até agora foram no mesmo joelho. A pesquisa não mostra, porém, por que isso acontece, o que me fez pensar.

Esses dias eu estava de frente para o espelho fazendo um exercício e minha fisioterapeuta ficou bem feliz ao ver uma musculatura fortalecida na perna que antes não aparecia. Ela se empolgou com o avanço, mas logo percebeu que estava enganada pelo reflexo: estava olhando pra perna boa.

Com base nesses fatos e depois de observar a passagem bíblica a seguir, cheguei a algumas conclusões:

– Olha! todos esses anos tenho trabalhado como um escravo ao teu serviço e nunca desobedeci às tuas ordens. Mas tu nunca me deste nem um cabrito para eu festejar com os meus amigos. Mas quando volta para casa esse seu filho, que esbanjou os teus bens com as prostitutas, matas o novilho gordo para ele! (Lc 15.29,30)

 

Até agora toda minha atenção se voltou apenas para o joelho operado. Em várias ocasiões ressaltei minhas dores e os tratamentos promovidos no joelho (ex-)bichado – a novidade agora está por conta de umas bandagens feitas para realinhar o joelho, o brabo é voltar a depilar a perna, pois os esparadrapos mágicos perdem o efeito na hora de sair e dói demais arrancá-los – mas e o joelho “bom”? Aquele que me sustentou, em quem eu me apoiei por todos esses dias, sobre quem eu pulei pra tomar banho ou subir alguma escada, que nunca reclamou de aguentar todo o peso do meu corpo. Sobre quem eu me ajoelhei ou me agachei, nenhuma menção sequer até aqui.

Assim como o irmão do filho pródigo, acredito ser por ciúmes, ou pra chamar a atenção que os joelhos bons acabam por se ferirem, não suportam o descaso, toda a responsabilidade de estabilizar um corpo cambaleante; é muita pressão sem o devido reconhecimento.

Geralmente agimos assim, sentimos falta apenas do que se perdeu. Quase ninguém ganha nome de rua enquanto está vivo; ferimos, com palavras ou gestos, principalmente quem nos é mais próximo. Eu não quero cometer essa injustiça e me dirijo neste texto aos de perto, aos que sempre me aguentaram, aos que nunca me machucaram, dedico minha atenção a vocês...

Meu querido joelho bom, você sempre teve grande valor para mim, afinal de contas, foi de perna direita que fiz meus melhores gols... Faço das palavras do pai do filho pródigo ao seu outro filho as minhas palavras:

"Disse o pai: ‘Meu filho, você está sempre comigo, e tudo o que tenho é seu. Mas nós tínhamos que comemorar e alegrar-nos, porque este seu irmão estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi achado."

 

 

Comentários sobre "O JOELHO BOM"

Data: 19-07-2011

De: Elenor

Assunto: O joelho bom

Muito boa reflexão e sempre melhor valorizar antes de perder algo de valor....... Deus abençoe Elenor Almeida

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