DIÁRIO DE UM OPERADO, NOVA FASE, PARTE 3

03-04-2011 02:15

 

Eu estava ansioso para ver sua reação, não aguentava mais esperá-la chegar, quando ela de repente entrou correndo como costumeiramente faz, fazendo barulho, falando sem parar – é sempre como se estivesse eletrificada – quase não me deixou falar, só se calou quando eu disse que tinha algo a lhe mostrar – a curiosidade sempre fala mais alto.

 

Apoiei-me na cama, pus-me de pé e dei uns três passos cambaleantes sem me escorar em nada. Ela arregalou ou olhos, sorriu e exclamou:

 

– Você já sabe andar sozinho! E em seguida emendou: – Ahh, achei que era alguma coisa pra mim, pra eu brincar, tchau! E lá se foi minha filha correndo para brincar no seu quarto...

 

A última sexta-feira, a 36 dias de operado, tive um dia puxado. Cheguei com apenas uma muleta para uma sessão exclusiva de fisioterapia na qual demos início ao fortalecimento através do aumento da resistência, com utilização de um terrível peso de meio quilo na perna operada (a previsão é que já na próxima semana eu passe para o insuportável 1 kg; estamos em evolução).

 

Os exercícios e suas repetições foram diversos e o trabalho foi tão bom que saí de lá com 100 graus de flexão do joelho. Cumpriria ainda a última etapa desse dia: mais uma reavaliação com o ortopedista.

 

Ao me ver com apenas uma muleta, achei que o ortopedista ficaria feliz, mas já no corredor ele me tomou a minha companheira de tantos dias e fez pouco caso da minha insegurança (caracterizada pela tremedeira na perna). Abriu a porta para mim e disse apenas que estava me esperando na sala onde seria a consulta, deu as costas e me esperou: se eu me lembrasse de como fora quando aprendi a andar na infância certamente não recordaria tanta apreensão. Meus olhos pediram ajuda às três pessoas que estavam por ali pela recepção no hospital, como se pedisse uma mão, um colo; mas assim como minha filha, pouco caso fizeram, afinal de contas, não é lá grandes coisas um homem na minha idade caminhando – eu não estava andando sobre as águas; nem sobre uma corda bamba; não estava equilibrando nem carregando nada – eu estava apenas andando.

 

Cheguei com certo medo, depois de algum tempo, à sala da consulta para constatar juntamente com o médico que a recuperação está indo muito bem obrigado.

 

Percebi também com essa e outras “situações pós-cirurgia” que pouco se valoriza as coisas simples da vida: como a possibilidade que temos de caminhar simplesmente (nem todos a têm); o ar que se respira; o emprego que se tem; a família e os amigos; aquilo que já obtemos de conhecimento seja de que nível for; a pessoa amada; os bens adquiridos e tantas outras conquistas das quais nem nos damos conta ou valorizamos. Conquistas estas que não poderíamos nunca deixar de atribuir e agradecer Àquele que incondicionalmente nos amou e olha por nós em tempo integral nos proporcionando todos os dias o despertar e o repousar... a Ele a glória!

 

        Já abandonei quase totalmente as muletas e caminho “ipsis litteris” em direção à recuperação, seja isso importante ou não...

 

 

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Data: 11-04-2011

De: Samara

Assunto: Leitura

Querido,

Que bom que você está cada dia melhor! O que mais me anima é o prazer em desfrutar da leitura de seu blog. Como você escreve bem! Leitura leve, descontraída, não cansa. Mil beijos.

Data: 03-04-2011

De: Angélica Pivetta

Assunto: Felicidade!

Nossa fico feliz de ver a tua percepção sobre o tratamento. E, não se preocupe, pois o médico não fez pouco caso do fato de tirar as muletas, mas esse é um ´incentivo especial´ para a libertação das muletas. Parabéns!!!! Agora vai dar um passeio (sem muletas) e aproveitar a nova fase parte 3! Abraço

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