DIÁRIO DE UM OPERADO, NOVA FASE, PARTE 2

Este foi um dia em que realmente eu pude me sentir um pouco livre novamente. Intencionalmente fui ao banheiro para escovar os dentes e urinar de pé, coisa que não fazia há 27 dias; senti-me realizado.

Chegando à fisioterapia demos prosseguimento ao trabalho: alguns exercícios novos, algumas repetições a mais; nada, porém, que me habilitasse ao uso do meu aguardado choquinho. Choque, aliás, é o que a minha imagem parece gerar nas pessoas: passando a sair mais de casa, encontro mais pessoas e estas, cada vez que me veem de muletas e com a tala, conjecturam inúmeras possibilidades para o que houve com minha perna sem mesmo me deixar falar, começam sempre indagando: quebrou a perna? foi atropelado? caiu de moto? colocou prótese? fez troca de sexo? sofreu acidente de carro? de vez em quando alguém acerta no futebol.

Falando ainda em choque, alguns ficaram realmente surpresos por me verem dirigir nessas condições; mas, apesar da dor, do desconforto da posição e da reprovação médica, estou acostumado a usar a perna direita para os três pedais – técnica desenvolvida nas outras cirurgias – e além do mais, eu precisava disso e como se trata de um trajeto curto, de um pouco mais de 2 km, consegui argumentar para receber a autorização da minha esposa (como citado no 1º parágrafo), apesar do seu temor. Até minha filha se espantou quando acordou e soube que eu fora de carro.

O que mais eu poderia voltar a fazer que não tenho feito ultimamente?